"Dava-lhe dezassete centímetros de palpitações violáceas!
Cruzou as pernas e a saia subiu um pouco mais. Levantou os olhos do livro. O seu olhar encontrou o meu, por cima do jornal. O seu rosto era inexpressivo."
Foi já depois de ter despido o sutien que lhe arranquei alguma verdade... Pela estranheza do que se estava a passar ali, naquela madrugada, no escuro.
Uma história um tanto familiar. Um protótipo do meu passado.
Só o alcool nos faria isto, tendo em conta cada um de nós, tendo em conta o que se havia passado.
Os cigarros já não faziam a ponta de um corno e mais um trago de whisky atirar-me-ia directamente para a sargeta. Preferi manter-me naquele limbo. Até porque mais alguma gota houvesse, tê-la-ia sorvido sem hesitação.
Já não tinha personalidade nem força nos membros, limitava-me a receber caricias e a retribuí-las assim que me sentia capaz.
Passaram-se horas. Ganhava consciência mas sentia-me mais doente ainda. Mantinha-se um equilíbrio entre os dois males.
Cada vez mais a minha cabeça se enchia de pedras aguçadas. Só o escuro não era nocivo.
Um som de campainha fez com que me apercebesse da minha dor física...
«Vou-me embora!»
«Não...»
«Tem que ser.»
Levantei-me daquele pequeno ninho imaculado. Estava com uma terrível vontade de mijar. Voltei a beijá-la na escuridão e diriji-me à porta.
A luz irradiante do sol da uma retorceu-me as vísceras. Nos primeiros vinte passos julguei que não sobrevivia. A minha cabeça parecia carregada de dinamite em explosão câmara-lenta, mal conseguia abrir os olhos inchados e doía-me o corpo todo.
Felizmente estava frio e não fui capaz de vestir o casaco, apetecia-me tirar a roupa.
Fui capaz de me conservar até ao carro enquanto me cruzava com estranhos e conhecidos que ignorei de igual forma.
Cheguei a casa e fui finalmente mijar.
domingo, 20 de dezembro de 2009
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